Comportamento

A elegância dos cortes na Zona Sul

13.12.2017 | Por: Guilherme L. da Rocha

Barbeiro é uma profissão presente nos quatro cantos do mundo, cada salão tem seu jeito único de fazer um corte próprio pra manter a fidelidade da galera. Em março, colamos em Guaianazes, Zona Leste de São Paulo, para falar sobre os cortes chavosos da região. Agora, no último mês do ano, encostamos na Barbearia Ranka, no Capão Redondo – Zona Sul, pra descobrir se há diferença nos cortes de quebrada e se mudou algo nos estilos de lá para cá. Até porque, como mostramos na entrevista do NGKS, existe uma geração nova com um perfil diferente do perfil ‘chavoso’, com juliet e meia na canela.

Os responsáveis por deixar a galera na estica são os irmãos Peterson Henrique Gomes da Cunha, o “Pepé“, 29, e Emerson Rodrigo da Cunha, o “Ranka“, 32.

“Temos que estar à frente do cliente. Quando ele chega aqui mostrando um corte, temos que estar por dentro, no mínimo, saber do que ele está falando. Hoje com a internet não dá pra ficar por fora”, afirma Pepé. “Inclusive, a internet é fundamental também pra divulgar nosso trampo, muitos clientes vêm das redes sociais, principalmente do Instagram”.

A família Cunha é referência na região para quem quer um corte de qualidade. “Meu pai [Dario] sempre foi barbeiro, daí eu e meu irmão fomos pelo mesmo caminho”, explica Pepé. “Meu irmão começou a cortar antes e há 10 anos tem esse lugar [a barbearia Ranka]. Quase na mesma época que meu irmão começou a cortar, meu pai sofreu um acidente e ficou um tempo sem trabalhar, foi então que eu fui aprender a cortar cabelo, com 19 anos”, completa Pepé, que vai completar 10 anos de carreira.

Não tinha melhor época para encostarmos na barbearia. Dezembro é o mês mais concorrido no salão dos irmãos, e mesmo sendo uma quarta-feira, um dia tido como mais tranquilo, não parava de chegar gente. Para organizar essa situação, o jeito encontrado pelos irmãos foi agendar os cortes via WhatsApp, daí não tem dor de cabeça pra ninguém. Empreender em primeiro lugar.

Com uma demanda de cerca de 60 cortes por fim de semana no salão – nos dias de semana o número varia tanto que eles nem conseguem precisar -, os irmãos já perderam as contas de comemorações “perdidas” por conta do trampo. A exigência dos clientes faz com que a produção do corte varie entre 30 minutos até uma hora. Mas o nível de qualidade somado com os bons produtos que os barbeiros trabalham não podem pesar tanto no preço final do corte, senão a galera reclama.

“O que mais me chamou a atenção nesse ano foi a exigência dos clientes. A galera vê os cortes na internet, chega aqui e pede igualzinho, exige uma qualidade top. Sem mexer no preço, é claro. Esse é o grande X da profissão”, completa Ranka.

Os estilos dos cortes também recebem uma influência musical. A Zona Leste ficou marcada pelo funk ostentação, fazendo a cabeça da galera com os cortes chavosos, de estilos mais agressivos e traços que chamavam atenção. Enquanto a Zona Sul foi o berço do rap paulistano, isso se reflete nos cabelos com uma pegada mais afro e cortes com uma cara mais séria. Porém, é bom destacar que o estilo chaves ou afro não são exclusividade de uma ou outra quebrada, pois de um modo geral, os gostos da ZL e da ZS são bem parecidos.

“Recebemos gente de vários lugares, tem um cara que vem todo mês de Londrina-PR, (cidade a mais de 500 km de distância de São Paulo), só pra cortar aqui com a gente”, disse Ranka. “Falando da Leste, especificamente, não tem muita diferença não, os pedidos são parecidos. Claro que nossa clientela maior é aqui da Sul, e de uns dois anos pra cá, principalmente esse ano, houve umas mudanças. Uns pedidos por uns traços diferentes e minimalistas, alguns cortes mais afros”, conta.

Todo esse trampo diferenciado dos irmãos fez com que a profissão se tornasse desejada pela juventude local. Da pra seguir carreira nessa área. “Tem muita gente querendo aprender a fazer os cortes, a melhorar a técnica, etc.. Alguns colam pessoalmente aqui [no salão] pra tentar aprender”, explica Pepé.

Existe outro personagem da região que também serve de inspiração para molecada do Capão Redondo. Mas não é segurando uma máquina ou uma navalha, e sim um microfone. O MC Taz, sempre que possível (e quando vai lançar videoclipe novo), está no salão, nem que seja só pra trocar umas ideias com os amigos.

“Creio que eles tenham bastante clientes por conta do profissionalismo, eles fazem o que tem que fazer muito bem, daí muitos querem voltar. Além disso, o ambiente aqui é show, você pode conversar sobre tudo, desabafar, trocar ideia…”, brinca o cantor, que é um dos diversos artistas da região que passam por lá para ficar na estica.

Se você tá afim de fazer um corte moderno e bem de boa, que serve desde um casamento até um bailão, a Barbearia Ranka é uma boa opção. Passada de pai para filho, a arte da barbearia foi muito bem aperfeiçoada pelos irmãos Cunha.

Ranka e Pepé

Confira fotos dos cortes de Pepé e Ranka:

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