Comportamento

Concurso seleciona os melhores barbeiros na zona leste de SP

14.10.2019 | Por: Renan Omura

Tesoura, pente, máquina de corte e navalha. Com esses instrumentos em mãos, 17 barbeiros participaram neste último domingo (13), da 4ª edição do concurso O corte mais chave de São Paulo. A premiação ocorreu na Fábrica de Cultura da Cidade Tiradentes e foi promovida pela instituição CataVento Cultural em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

Cabeleireiros de diversas quebradas fizeram cortes simultâneos e tiveram 35 minutos para convencer os jurados. A banca de avaliação era formada por vencedores das edições passadas, profissionais conceituados na área e um dos fundadores do evento. O júri avaliou os seguintes critérios: criatividade, desenho, acabamento, técnica com tesoura e postura.

Os cinco melhores colocados ganharam como prêmio equipamentos, troféus, medalhas e certificados. Bruno Henrique da Conceição, de 24 anos, ficou em primeiro lugar e não conteve as lágrimas ao receber o título.

“Nem acreditei quando eles anunciaram meu nome. Enquanto cortava eu orei a Deus para que eu pudesse ficar entre os cinco melhores, mas não achei que venceria”, conta Bruno.

Barbeiro há quatro anos, ele começou na área cortando cabelo de crianças carentes e dos familiares sem cobrar. Pouco a pouco, Bruno foi se profissionalizando e hoje tem o próprio salão na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.


Vencedor do concurso Bruno Henrique da Conceição, 24 anos

Bruno participou da 2ª edição do evento e ficou em quarto lugar. Desde então vem praticando para aperfeiçoar as técnicas. Para ele, a experiência e a visibilidade que a premiação proporciona ao participante é fundamental para o desenvolvimento profissional do barbeiro.

“Na próxima edição gostaria de ser um dos jurados. Competir não é fácil não. Dá muito nervoso, mas de qualquer forma, se não rolar eu participo outra vez”, conclui sorrindo.


Corte vencedor feito pelo vencedor Bruno Henrique da Conceição

Em 2º lugar ficou o barbeiro Jonathan Matias Ferreira, 31. Atuando na área há cinco anos é a segunda vez que ele participa do concurso. Na edição anterior ele se classificou na terceira posição e garante que na próxima ficará em primeiro.

Além de atuar como barbeiro na Cidade Tiradentes, ele também faz workshop e palestras sobre técnicas de corte. Jonathan conta que o concurso é importante, pois além de valorizar a profissão, contribui no desenvolvimento profissional e pessoal do barbeiro.


Jonathan à esquerda e o modelo de corte a direita

“Muitos enxergam a periferia com um olhar negativo, mas a quebrada é um lugar que forma muitos talentos também. Só é preciso dar oportunidade para mostrarmos nosso valor”, relata Jonathan.


Corte classificado em 2º lugar, feito por Jonathan Matias Ferreira

Daniel Ramos, de 26 anos, participou pela primeira vez da competição e ficou em terceiro lugar. Atualmente ele não possui um salão próprio e para atuar como barbeiro ele aluga diariamente as cadeiras. Para Daniel, o concurso é um incentivo para continuar na carreira e conquistar o espaço.


Corte classificado em 3ª colocação feito por Daniel Ramos

Em quarto lugar ficou o Felipe Silva Santos e na quinta colocação ficou o Celso Souza.

O barbeiro e educador Murilo Pastore, de 34 anos, foi um dos jurados do concurso e é uma inspiração para os participantes. Ele foi vice-campeão mundial no campeonato de barbearia que ocorreu na Colômbia e venceu o programa Duelo de Salões da TV Band em 2017.

Assim como a maioria dos jovens de quebrada que começa atuar no ramo, Murilo iniciou a carreira cortando cabelo no bairro onde morava em Parelheiros, zona sul de São Paulo. Ele cobrava R$3 por corte e trabalhava na garagem de casa. Atualmente ele tem duas unidades e ministra palestras e workshop.

Com mais de dezoito anos de experiência na área, ele ressalta a importância do evento. “Muitos que moram na periferia têm a visão ofuscada e não conseguem enxergar o potencial que tem. Esse concurso abre novos rumos”, explica.

Para Murilo a profissão também resgata os jovens da criminalidade. Como exemplo ele utiliza a própria vida. “Eu já fui usuário e o que me ajudou a sair do vício foi a barbearia. Sou muito grato a Deus por ter me dado essa profissão. Para aqueles que desejam alcançar seus objetivos, basta acreditar”, conclui.


Cerca de 200 pessoas estiveram presente no concurso

Matheus Oliveira, 25, é subgerente de promoção e articulação da Fábrica de Cultura da unidade Tiradentes e relata que objetivo do evento é justamente propagar o trabalho dos barbeiros da periferia. Para ele o concurso é uma forma de fomentar a cultura da quebrada.

O concurso ocorre uma vez por ano em cada sede da Fábrica de Cultura da zona leste de São Paulo. As instituições ficam localizadas na Vila Curuça, Itaim Paulista, Tiradentes, Parque Belém e Sapopemba e são gerenciadas pela instituição CataVento. A ação é fomentada pelo Governo do Estado de São Paulo e a próxima edição será na Fábrica de Cultura unidade Sapopemba.

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