Seria o funk em 150BPM uma nova direção do funk no Rio?
**Texto originalmente publicado no blog O Volume Morto, escrito por Gabriel Albuquerque
Há dois anos, alguns DJs e canais de funk no YouTube começaram a introduzir uma novidade que eles chamavam de “ritmo louco” ou “putaria acelerada”. A tradicional batida do funk carioca saiu dos 130 B.P.M. (Batidas Por Minuto, em outras palavras a velocidade da música) para a faixa dos 140, até 150 BPM, criando um efeito mais caótico e frenético pro funk. Se isso é um tendência ou não, ainda é difícil de dizer, porém, é um movimento a ser mencionado e o Portal KondZilla vai contar mais dessa história.
Por não participar diretamente (moro em Recife-PE), observei que o movimento dos 150 BPM pareciam ser mais que um som: parecia mais uma causa, quase um motivo de orgulho de uma nova geração do funk carioca que queria mostrar sua marca. O que eu, e pelo visto nem mesmo os produtores imaginavam, era que a putaria acelerada fosse crescer ao ponto de, dois anos depois de ser lançada, causar a maior polêmica do momento no funk carioca, dividindo os produtores e MCs veteranos do tamborzão e os novinhos acelerados.
As primeiras faixas desse novo estilo mostravam uma produção rudimentar. Era como se o antigo tamborzão fosse incrementado com um beatbox e acelerado toscamente no Virtual DJ. E, para completar, tinha um grave que deixava o som da música inteiramente estourado. Vale notar que isso não é uma prática exclusiva do funk. No tecnobrega paraense, é comum que os DJs das festas de aparelhagem acelerem as batidas das músicas (se liga na versão de original de “Tá Faltando Homem”, da Banda Xeiro Verde, e a versão da aparelhagem SuperPop, por exemplo) como nos bailes também, mas não a ponto de distorcer os vocais e o ritmo da música.
O produtor e DJ Byano, que ficou conhecido por produzir músicas do MC Orelha, explica o movimento de acelerar o funk. “O funk do Rio de Janeiro quando surgiu era conhecido no BPM 127 pelo funk melody (Stevie B e etc.). Daí o funk foi aumentando: 127, 128, 129 e ficou um bom tempo no 129. Daí começamos a produzir em 130. E ficou durante anos, vários sucessos, e os DJs profissionais tocando em 130 BPM”. Essa marca do tamborzão consagrou o funk como um ritmo periférico brasileiro ao redor do mundo.
Desde a criação do tamborzão, aproximadamente em 1999, pouco se mexeu na batida carioca. Surgiu o beatbox do funk (conhecido como tamborzinho), mas a estrutura permaneceu a mesma. Até agora.
O MC Metade foi o primeiro a lançar uma música na onda do ritmo louco: “Ibá Ibá Ibá na Nova Holanda”, em 155 BPM. Mas ainda era o tamborzão acelerado. E essa fórmula não funcionava mais porque o som era de baixa qualidade, mal feito.
Com o tempo, os produtores do movimento foram tentando encontrar uma nova base que solucionasse o problema e atendesse às demandas específicas do novo ritmo que estavam construindo. Foi aí que o DJ Polyvox criou o seu Tambor Coca-Cola, de 150 BPM. Este sim, um beat naturalmente produzido de forma acelerada, não alterando somente a velocidade de algo já existente – o que distorce a música inteira.
“Fiz o Tambor Coca-Cola batendo com uma garrafa de dois litros na porta. Eu coloquei o gravador do outro lado e fui equalizando”, revela o DJ Polyvox. Ele conta que criou três variações da batida: o Tambor Coca (usado em “Vai Com a Boca, Vem com a Boca”, com o MC Chefinho), o Coca do Mal (de “Um Tal de Bota Tira, Um Tal de Tira e Bota”, com o MC Buret) e o Coca Swing (de “Vem, Roça a Pepeca”, música com o Mr. Catra).
Polyvox é um dos produtores mais criativos da turma, levando o funk para novos caminhos. “Um Tal de Bota Tira, Um Tal de Tira e Bota” tem uma pegada Footwork e um ponto agudo que é incrementado com um leve efeito de eco na música, o que cria um som tipo “espacialização”. Em “Rock Pras Piranha”, ele faz a mistura de gêneros que os DJs mais antigos diziam ser impossível no 150 BPM.
Quem também chama no movimento é a dupla Rennan e WM 22, da favela da Penha, no Rio de Janeiro, que criou e apelidou uma batida acelerada de “Tambor Porrada Seca”. É uma batida próxima ao Tambor Coca Cola, mas com pontos de beatboxes e muito mais focado no grave forte, aproximando-se do som dos proibidões. Já o Rodrigo Fox está mais ligado no arrocha, chegando até os incríveis 160 BPM.
Ainda é cedo para dizer se a moda veio para ficar ou não. Mas o Polyvox mandou um vídeo caseiro de sua música com o Mr. Catra cantando nos 150BPM – trabalho que já está finalizada e deve ser lançada em breve. Além dele, o vídeo apresenta mais dois MCs cantando no ritmo, mostrando que a novidade já está no Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Nova Holanda, Parque União (PU), Penha e Antares. E Catra não apenas aderiu à putaria acelerada como deixou um toque esperto: “Criação é criação”.