Empreendedorismo

O “Favela Business” passa a visão sobre empreendedorismo na quebrada

12.09.2017 | Por: Guilherme Lucio da Rocha

Empreender é uma palavra que tá na moda. Só que empreender pra quem tem grana é uma coisa, agora empreender sem dinheiro é para poucos. Ou melhor, nem tão poucos assim, pois nas quebradas Brasil a dentro existem vários exemplos de uma galera que saiu do negativo e conseguiu criar seu próprio negócio. A KondZilla é um exemplo. Foi percebendo toda essa genialidade da periferia que uma dupla decidiu criar o projeto “Favela Business“, para ajudar quem quer ter o próprio negócio, e o Portal KondZilla foi até o fundão da Zona Sul de São Paulo, mais precisamente no Jardim Rosana, para trocar uma ideia com Jeferson Delgado, 19, e Heloisa Ferreira, 19, criadores do projeto.

“Trabalho desde moleque, e já passei por vários lugares: feira, lojas, etc”, explica Jeferson. “Sempre tive essa visão da importância do empreendedorismo na quebrada e como a galera tinha essa facilidade. Quando tive meu primeiro contato com o audiovisual, logo tive a ideia de fazer uma websérie falando dessas histórias”.

Uma das missões do Favela Business é dar voz a esses empreendedores e contar como eles conseguiram fazer sucesso no próprio negócio que, em via de regra, começou “do zero”. Como é o caso da própria KondZilla, que a partir de uma idéia do diretor KondZilla e uma câmera, se tornou uma produtora referência no audiovisual.

Mas o que a palavra empreender quer dizer? Em resumo, é quando você profissionaliza a atividade que você executa. Por exemplo: você leva jeito para design gráfico e já está fazendo alguns freelas pros amigos, um flyer de festa, um convite de casamento, etc… Com a grana desses pequenos trabalhos, você decide alugar um espaço para que mais pessoas conheçam o seu trabalho, você faz um anúncio para atrair mais clientes e monta um site como portifólio. Você está de certa forma, montando seu próprio negócio de designer. Você se tornou um empreendedor.

Nas quebradas por aí, existem diversos exemplos de negócios bem sucedidos, com empreendedores bem sucedidos. Como no caso do Vinicius Rodrigues, dono do salão “Bom de Corte” (já falamos dele aqui), que abriu seu salão pequeno em uma viela de Guaianases, e com uma mistura de planejamento e bom investimento, conseguiu expandir seu negócio, abrindo seu salão em um novo lugar. São histórias como essa que a dupla retrata e ajuda como podem.

Criado na Zona Sul de São Paulo, Jeferson nunca foi um exemplo de “bom aluno” – segundo palavras dele mesmo. Porém, ao entrar no Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (NCN-USP), ele mudou sua visão de vida e também foi onde conheceu o mundo do audiovisual.

“Eu não pensava em muita coisa não, só em curtir mesmo. Foi no NCN que tive contato com a questão de conhecer minha história, minhas origens, sobre negritude e ser de periferia na nossa sociedade. E foi lá também que tive um primeiro contato com o audiovisual. Lembro que no começo, peguei uma câmera emprestada de um amigo, e andava com ela pra cima e pra baixo, filmando tudo. Depois, quando fui pesquisar para tentar comprar a minha, vi que a câmera custava R$10 mil. Algo surreal, não acreditava que andava com um equipamento tão caro”, conta Jeferson.

Foi também no NCN que Jeferson conheceu Heloisa, sua companheira de trabalho e de vida. Heloísa quem idealizou o canal e ajuda a produzir um conteúdo voltado para periferia, com assuntos além da questão do empreendedorismo.

“Nossa ideia é passar uma mensagem de sucesso para os nossos semelhantes. Sabemos que não é fácil, mas com calma a gente consegue transmitir nossa ideia. Não adianta chegar na quebrada, falando sobre assuntos complexos e de uma maneira que a galera não entenda. O discurso tem que ser calmo”, explica Heloisa, que é uma espécie de mentora e produtora da parada.

“O que também temos que destacar é que não queremos que o pessoal tenha que sair da quebrada para ter acesso a certos tipos de informação, que foi o meu caso. Só quando eu fui pro Núcleo de Consciência Negra que tive noção de certas coisas, muitas nunca tinha nem ouvido falar. Esse tipo de informação tem que circular na quebrada, não ficar só no centro”, completa Jeferson.

A arte de empreender nasce no sangue da galeria que vive na periferia. É comum ver pessoas que tiveram ideias e correram atrás do próprio negócio. Da pequena banca de frutas até uma produtora de vídeo. Jeferson e Heloisa deram uma luz à essa galera que precisa de algumas dicas de empreendedorismo. Ou até mesmo uma palavra de incentivo.

“Muitas vezes, essa galera não tem noção da genialidade que eles têm. Eles não precisam de curso, é meio que um instinto de sobrevivência”, conclui Jeferson, que faz curso técnico de jornalismo e já foi “guia” do jornal inglês The Guardian pela Zona Sul de São Paulo. Enquanto Heloisa foi convidada para ser criadora de conteúdo no novo projeto da Avon, “E aí, tá pronta?“. Tudo por conta do trabalho que estão fazendo no “Favela Business”.

O casal diz que não pensa muito no futuro. Projeções sobre fama e dinheiro não estão no mapa. Ter os pés no chão é algo fundamental pra eles. Na verdade, esse é um lema para todo bom empreendedor, principalmente os de quebrada.

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