Novembro negro e o mundo do trabalho
Texto por Bárbara Querino
O tão esperado mês de novembro chegou, o mês das “oportunidades” de trabalho e de fazer uma renda extra.
O mês que artistas e autônomos podem “comemorar”, pois é a certeza que trabalho não faltará. Mas será que não faltará mesmo? Será que já não está faltando?
E enquanto enchem nossos olhos de falsas oportunidades, somos bombardeados de eventos, festivais e algumas ações, fazendo com que fique difícil de escolher onde ir. Pessoas negras ficam na expectativa de serem contratadas, “notadas” e acabamos sendo levados a acreditar que a problemática que assola um ano inteiro será resolvida em 30 dias.
Isso faz com que eu acabe questionando se é apenas em novembro que as marcas e empresas nos notam?
Será que devemos falar sobre o mercado de trabalho apenas em novembro?
Estudos apontam que por mais que uma pessoa negra tenha diversas qualificações, suas características sempre serão critérios impeditivos na hora da contratação, fazendo com que grande maioria acabe tentando se encaixar num “padrão” para serem contratados.
Veja bem, não estou dizendo que não devemos aceitar essas propostas, ou deixar de ir nesses eventos. Mas que devemos questionar o porque as marcas e empresas que tem nosso tom de pele, cabelos e traços negroides como impeditivo no decorrer do ano, chega no mês de novembro mascaram as suas políticas racista e temporariamente exaltam essas características, para vender uma falsa ideia de inclusão e diversidade racial.
Dito isso, é importante lembrar que o mercado gira muito bem para a branquitude o ano inteiro, inclusive neste mês, o mês da “Consciência Negra”, em que eles estão no poder e controle de contratação.
E eu como artista independente acabo tendo uma procura maior e isso faz com que eu aceite e recuse alguns trabalhos.
O que é ruim, pois sou autônoma e não possuo uma renda fixa. E é como se tivéssemos que correr atrás de um prejuízo de 11 meses, em 30 dias.
De acordo com uma matéria do Notícia Preta feita no 2º trimestre de 2022, foi revelado que a taxa de desemprego entre pessoas negras teve crescimento de quase 14%. A estatística revela estarem abaixo da média nacional: pretos (11,3%) e pardos (10,8%).
E por isso devemos entender que enquanto as empresas e marcas não mudarem suas formas e políticas, não devemos comemorar o pouco que nos é oferecido, pois isso sempre vai soar como um “favor”. Nossa existência não se resume a uma “consciência negra”.
Consciência negra é empregabilidade, oportunidade para qualidade de vida, cultura e educação. E isso não dá para fazer em 1 mês!