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Descubra a geração dos ‘MCs-produtores’

02.10.2017 | Por: Guilherme Lucio de Rocha

O funk, como qualquer outra vertente musical, é feito de diversas pessoas além do MC. Entre empresários, DJs e compositores, um personagem que está em alta e com uma certa relevância para o público é o produtor, que é responsável pela produção da música – em linhas gerais, ele que faz a ‘batida’. E, mais recentemente, o funk conheceu uma figura nova nessa engrenagem: o MC-Produtor, um cara que tem talento para cantar e manja de produção. O Portal KondZilla explica um pouco de como esse personagem ‘2 em 1’ vem crescendo.

A produção musical no funk evoluiu bastante desde a virada da década. Quase em conjunto com o crescimento do funk em São Paulo, a produção deixou de ter aqueles ares rudimentares de “colagem de samples” para ganhar um semblante quase a “nível pop” na qualidade. A maior mudança ocorreu no formato de produção. Agora, as músicas contam com elementos novos e muito cuidado com todas as partes da música: seja a melodia, seja a linha de baixo, seja a batida, seja os efeitos de voz. Por conta disso, o trabalho da produção começou a ser muito mais respeitado e estudado por quem vive no funk. Até porque, o público agora, já reconhece qual produtor fez qual música.

É bom lembrar que a figura de artistas seguindo a carreira de MC-produtor não é algo inédito no funk, há relatos de MCs que já se aventuravam nisso há uma cota. A diferença é que a categoria ganhou mais “participantes” e podemos citar vários de sucesso, como: MC Lan, MC Gustta, MC Fioti, MC Menor da VG, MC WM. Todos produzem e cantam, cada um com sua peculiaridade.

Foto: Leo Caldas // Portl KondZilla

Atualmente, o MC WM – como produtor, ele usa o ‘codinome’ de DJ Will, o Cria – é um desses MCs-produtores. Wiliam Almeida Araujo, 28, começou na produção porque não era muito fã da sua voz, mas o desejo de mexer com música falou mais alto (já contamos a história dele nesse texto aqui).

Depois de ter se apresentado ao mundo da produção como “DJ Will, o Cria”, o cara perdeu a vergonha que tinha da sua voz rouca e decidiu também se aventurar na carreira de MC. Eis que nascia o MC WM. Sim, como você já deve saber, as duas profissões podem caminhar lado a lado.

“Quando a agenda como MC está cheia, fica difícil você ter uma atenção grande as produções. No meu caso, eu passei a cuidar mais dos MCs da minha produtora, quando eles têm alguma música para soltar ou querem um conselho em alguma produção. No momento, está difícil fazer algum trabalho para algum cantor de fora”, explica WM.

Um ponto que também é fundamental para esse crescimento dos MCs/produtores é a popularização da internet. Hoje, você consegue dominar qualquer programa de produção assistindo a diversas video-aula no YouTube. Sobre o Acid Pro, programa mais utilizado pelos produtores de funk, existem dezenas de tutoriais na internet ensinando cada detalhe. Bastar dar as caras no programa e ir aprendendo.

Foto: Ryck Rodriguez // Portal KondZilla

Outro exemplo dessa versatilidade é o MC Fioti (aliás, também já contamos a história dele aqui no Portal KondZilla, saca só a matéria). Quando começou no funk, viu nas produções uma chance de poder ser notado fazendo seus próprios trabalhos. A fita era que o movimento funk em geral não via com bons olhos quem trabalhava como MC e produtor. Era como se um atrapalhasse outro. Ademais, o rapaz conseguiu mostrar que esse raciocínio não é certo.

Com o passar do tempo, Fioti evoluiu seu trabalho tanto quanto MC, tanto quanto produtor e sua produção cantada por ele próprio já ultrapassou 300 milhões de visualizações. Eis que surge o dilema: será que o artista cantando e produzindo, deixaria alguém ‘de fora’ meter a mão – literalmente – no seu trabalho? Fioti responde.

“Hoje, eu não deixaria ninguém produzir as minhas músicas”, conta. “Como eu faço primeiro a letra, tenho uma ideia de melodia que se encaixa perfeitamente naquilo. Seria impossível um outro produtor conseguir fazer um trabalho como eu penso. Porém, isso não quer dizer que eu não reconheça o trampo deles, porque tem muito produtor bom na pista”, esclarece.

Aquelas produções simplistas do começo dos anos de 2010 perderam espaço para os graves estrondosos do movimento atual. Fioti e Lan cansaram de lançar músicas nessa pegada. Produzir algo mais trabalhado, com instrumentos de fora, ser mais cuidadoso ao fazer uma produção focada nos graves – muitas vezes até distorcendo – pode alavancar seu trabalho. E é sempre válido lembrar: não existe uma única fórmula para o sucesso. É até bom reafirmarmos isso: 10 entre 10 artistas que conversamos deixaram claro que (novamente) NÃO EXISTE FÓRMULA PARA O SUCESSO. Mas existe esforço e determinação.

Foto: Renan Felix // Funk na Caixa

Agora imagina você acumular essas funções de MC e produtor, ainda ser independente, ter que fechar shows ‘sozinho’ e cuidar de todos o problemas do backstage? Essa é a ‘dor de cabeça’ do MC R1, dono do sucesso “Então Rebola” e “Treme Bunda“, na estrada há quase uma década.

Rodrigo Santos, 28, trampa de casa e tem orgulho de ter um estilo fora da caixa. O seu repertório de shows conta com remixes de diversos sucessos de ritmos variados que ele transforma em funk. E isso também chamou a atenção de MCs, que quiseram dar uma inovada nas suas músicas. “Eu faço um trabalho bem diferenciado da maioria, com pegada de outros ritmos, sem deixar o batidão de lado. E tenho orgulho disso, até porque, faço tudo [relacionado] a minha carreira por conta própria”.

Sim, o MC R1 tem um acúmulo de funções que até lembram uma época não tão distante no começo do movimento, onde todo o trabalho era feito pelo próprio artista. Porém, o MC-produtor-empresário faz questão de manter o profissionalismo em todas as questões, mesmo sabendo que haverá prejuízos.

“Tenho que me preocupar com todos os detalhes. Hoje, estou mais experiente e já passei por vários perrengues. Uma vez, um contratante do Ceará me pagou o suficiente para eu ir, mas chegando lá não pagou para eu e minha equipe voltar, tive que pagar do bolso”, conta Rodrigo. “São coisas que o tempo nos ensina, mas não troco minha independência por nada”.

Foto: Renato Martins // Portal KondZilla

Depois de conversar com tanta gente, chegamos a uma conclusão sobre um ponto bom e um ruim de ser MC-produtor: a parte boa é que você consegue idealizar a música por completo, não tendo que passar pelo “filtro” de uma outra pessoa – o que algumas vezes pode desandar a parada. A parte ruim é que não tem como você se especializar, pois cedo ou tarde, um dos trabalhos vai te exigir mais tempo. E você vai precisar escolher uma frente para seguir.

Para finalizar, podemos dizer que a geração millenium tem o privilégio de dominar mais ferramentas e tem acesso a informação, diferente do que há 20 anos atrás. Essa é a geração que se encaixa nesta dualidade de tarefas, como o MC-produtor. Citamos pelo menos 10 casos de sucesso nessa carreira dupla, que requer uma dedicação dobrada. E isso não quer dizer que a pessoa que só produza esteja ultrapassada, ou quem só cante também não tá com nada. Queremos mostrar que há uma diversidade de talentos no universo funk. Cabe a você escolher o seu e trilhar sua caminhada.

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