Como Mr Catra, O Fiel, se tornou o paizão do funk?
Se o Mr Catra estivesse vivo, o artista completaria 54 anos no dia 05 de novembro. O que pouca gente sabe é que o paizão do funk também já foi do rock e abandonou uma carreira de advogado antes de se tornar uma lenda funkeira.
Que O Fiel deixou 32 filhos biológicos e adotados é quase tão notório quanto seu timbre de voz inconfundível, mas que ele era formado em Direito, poliglota e que havia começado sua carreira musical no rock, muita gente não imagina do artista que ficou conhecido como “Rei da Putaria”.
Wagner Domingues Costa, o eterno Catra, começou na música nos anos 80. Seus primeiros shows foram como guitarrista numa banda de rock chamada O Beco. Catra também teve outras bandas: já famoso no funk, montou “Os Apóstolos”, que em 2001 mudou de nome pra “Mr Catra e os Templários”. Eles faziam altos shows, gravaram disco e teve até videoclipe de versão rock dum antigo sucesso do homem.
Ele estudou direito na Universidade Gama Filho, passou na OAB, falava quatro idiomas – inglês, francês, alemão e hebraico. Ele também foi um grande frasista.
No funk, o cantor que também era chamado de “Papai”, brilhou no proibidão e no putaria e levou essa influência pro mainstream, se eternizando na história do funk e servindo como inspiração para vários MC’s em um estilo que ainda era novo, criminalizado, mas que começava a crescer com certa potência no Rio e fora dele. O talento do cantor fez com que várias músicas do estilo saíssem do Rio de Janeiro e conquistassem o Brasil inteiro.
O artista chegou a passar pelo hip hop, mas se encontrou mesmo no funk. Seus dois primeiros discos, de funk, “O Bonde do Justo” (1994) e “O Segredo do Altíssimo” (1996), saíram por uma gravadora independente que está entre as pioneiras do rap nacional, a Zâmbia Records, um lance bem inusitado. Inclusive na contracapa do primeiro tem uma foto do Catra cumprimentando o Mano Brown. Os hits desse primeiro disco no cenário do funk foram “Vacilão” e “O Retorno de Jedy”. No segundo foram vários, com destaque pra inesquecível “Peida Agora, Para Não Peidar na Hora”.
Depois disso ele assinou com a Warner e soltou um CD auto-intitulado em 2001, e nesse também tinha várias: “O Simpático”, “Capô de Fusca”, “Roubo da Motinha” – que tirava onda com um baita sucesso funk da época, “Dança da Motinha”, da MC Betty.
Desiludido com grandes gravadoras, O Fiel voltou pra independência e soltou seu maior sucesso: “Adultério”. Essa tocou no Brasil todo, com muita gente achando que a frase “na 4×4, o tempo voa” se referia à um carro, inclusive. Foi aí que Catra começou a se apresentar muito também em São Paulo, notadamente em bailes na Zona Leste e na Baixada Santista, fomentando a cena local, que começava a prestar atenção também nos artistas locais. O resto é história.
Catra, que foi um dos grandes arquitetos musicais responsáveis por popularizar o funk, faleceu em 2018, aos 49 anos de idade, por conta de um câncer gástrico. O funkeiro partiu deixando um legado repleto de músicas boas e que foram importantes para trilhar o caminho que o funk toma até hoje.