MC Kekel, um cara romântico e de família
“Família acima de tudo”. Esse é o lema de Keldson William da Silva, 21, o MC Kekel. Muito provavelmente você já ouviu falar dele por aí ou escutou alguma das suas músicas pela noite. Entre as principais estão: “Meiota“, “Partiu“, “Namorar Pra Quê?“, “Quem Mandou Tu Terminar?” e a mais recente, “Solteiro Até Morrer“. Mas todo esse glamour é facilmente esquecido em uma tarde de boa com a sua família em casa, fumando um nargas e jogando um videogame. E numa dessas tardes, Keldson, como é chamado em casa, recebeu o Portal KondZilla para falar um pouco da sua história, da relação com a sua mãe e seus projetos para o futuro.
“Não estou com muita sorte ultimamente, e o videogame me ajuda a desestressar. E esse aqui é dos bons, jogo desde moleque”, avisa MC Kekel, ao me convidar pra jogar videogame logo que cheguei na sua casa, em Guaianazes, zona leste de São Paulo. Esse é o lugar onde ele nasceu e vive até hoje.
“Se não tiver problema pra você, eu jogo e vamos trocando uma ideia. Suave?”. Lógico que sim, respondi. Até porque conhecer um pouco mais da sua história e ainda jogar um game com ele não seria nada ruim.
Kekel passava pelo que alguns chamam de “inferno astral“. Dias antes, algum zé ruela bateu no seu carro e, dias depois, ele sofreu um acidente de moto e se machucou feio, ganhando de presente 40 dias com um gesso na perna direita.
O Irmão do Kekel e Kekel, concentrados.
Mas firmão. O estresse era apenas um mero detalhe, então bora tocar a entrevista e jogar um game. Logo de cara, quis saber o que aquele ambiente significava pro MC: estar em casa, de boa, com os irmãos e o sobrinho. Se eu tava tirando um barato aquela tarde, que não era rotineira pra mim, o Kekel também estava, pois os shows e a fama tornaram aqueles momentos raros.x
“Sempre que eu posso estou em casa, com meu sobrinho e meus irmãos. Claro que ainda sou moleque, tenho só 21 anos e faço coisas de moleque, mas eu tento pensar neles. Quero dar uma condição de vida legal pra minha família. Eles são tudo o que eu tenho […]”, conta, de forma emocionada, o MC.
“Quando ‘Meiota’ estourou, o assédio ficou grande, tive até que parar de ir em fluxo de rua, que era minha praia. Eu curtia pra car*lho aquilo, mas não dava mais, era muita foto, eu não conseguia curtir de boa. Infelizmente, fui percebendo que não dava mais para dar os rolês que eu curtia antes da fama, digamos assim. Mas ainda tento viver uma vida o mais normal possível, tanto que esses dias tive que resolver umas paradas na Luz e fui de trem. Acho que a galera nem acreditou que era eu ali”, brinca. É, se a fama tem uma lado bom, ela também tem o lado ruim.
Mas antes de ser o “menino da Meiota”, Kekel já foi porteiro, trabalhou em fábrica de tecido e faltou em muita aula nas escolas em que passou.
Falando desse momento antes da fama, o cantor lembrou da sua mãe, dona Fátima, que foi mãe e pai para o cantor e morreu quando ele tinha 16 anos, por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Desde a morte da mãe, o MC acredita ter se tornado uma pessoa mais responsável e que, todos os dias, lembra da importância dela na sua vida. Keldson carrega dona Fátima na pele por conta de uma tatuagem no seu braço, e também a leva na sua musicalidade.
“Minha inspiração musical é a minha mãe, que escutava muito rap. Também tenho uma prima que participava de um grupo chamado ‘Sombras MCs’. Minha mãe não chegou a me ver cantando funk, mas foi bem no comecinho mesmo. Quero que ela tenha orgulho de quem eu sou hoje. Quando ela morreu, tive que me tornar um homem. Minha irmã também foi fundamental nisso, sendo a responsável pela casa, a chefe da família”.
Depois de ver o irmão mais novo de Kekel apanhar sem dó no videogame, decidi me intrometer um pouco para interagir (mentira, só queria mostrar que eu era bom naquilo).
Até para tirar um pouco da atenção do Kekel durante o jogo, eu quis saber um pouco mais sobre suas inspirações na música. Nitidamente um cantor romântico, ele explicou que suas letras são histórias reais e que é fã de uma galera carioca – do passado e do presente.
“As minhas letras são tipo um desabafo, são histórias de vida que passei de verdade. Tenho um pouco do Claudinho e Buchecha, sou fã deles e gosto de falar de amor e tal”. Perguntado se tem alguém da atualidade que ele gostaria de fazer uma parceria, Kekel respondeu: “Gosto da nova cena do rap carioca, principalmente do Luccas Carlos e do BK’. Gostaria de fazer uma música com eles”, finaliza.
Sempre que possível, o garoto de Guaianases faz questão de agradecer aqueles que o ajudaram na caminhada, como é o caso do DJ Perera, produtor responsável por vários dos seus hits como “Quem Mandou Tu Terminar?“, “Hit do Verão” e “Partiu“.
Hoje, Kekel é amplamente reconhecido no cenário musical, não ficando restrito ao mundo do funk. No último carnaval, o MC fez barulho em Salvador, Bahia, junto com o Léo Santana. Mas nem tudo são flores na carreira do MC. O movimento funk teve – e ainda tem – muitos problemas relacionados ao amadorismo e a ganância. Kekel experimentou isso de perto.
“Tive algumas decepções no funk, confiei em muitas pessoas que não deveria. Você acaba quebrando a cara, mas tem que servir de lição, de aprendizado mesmo. Hoje não cometeria o mesmo erro”.
Deixando essa brisa ruim meio de lado, vamos voltar pro game. Ou melhor não, vamos resumir apenas que eu e Kekel ganhamos experiência.
Antes de sair fora, Kekel nos convidou para conhecer sua outra casa, que fica na rua de cima de onde ele mora atualmente. Esse local era sua residência nos tempos de adolescência. Ele diz que seus avós e tios moravam lá também e agora que ele tem condições, ele está realizando uma baita reforma no local, um sonho de tempos pro MC. Tipo aquele programa do Luciano Huck, sabe?
“Antes de morrer, minha mãe estava reformando essa casa. Hoje, essa reforma pra mim é uma questão de honra”, disse. Agora você deve estar se pensando: ok, mas agora Kekel é rico, pode morar onde quiser, vai continuar morando em Guaianases? Ele responde. “Eu amo esse lugar e todas as pessoas que eu amo estão aqui. Não tenho essas ideias de mudar não, sou simplão mesmo”.
Orgulhoso, Keldson apontava para cada cômodo, sempre fazendo questão de contar como era a casa na antiga e como vai ficar. E pela descrição dele, vai ficar daora mesmo.
Depois da descrição detalhada, sobre as diversas blitz que ‘superou’ depois de se tornar famoso, sobre os rolês icônicos com os amigos de infância e sobre outros diversos assuntos, muitos deles impublicáveis, chegou a hora de partir.
Pra fechar, batemos um pastel de carne e ganhamos um convite – na verdade, quase que uma intimação – para colarmos na festa de 22 anos do Keldson, que foi realizada no quintal da casa em reforma.
“E se vocês [eu e o fotógrafo] não vierem, eu vou ficar puto, hein?!”. Porém, é bem difícil imaginar o Keldson sem um sorriso na cara, puto com algo.
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